Essa é uma dúvida muito comum e alvo de muita polêmica. Afinal de contas, as motos podem trafegar pelos corredores? Essa situação seria a explicação para o alto número de acidentes envolvendo esse tipo de veículo? Conversamos com Julyver Modesto de Araújo, mestre em Direito do Estado e comentarista do CTB Digital, para nos ajudar com essas e outras questões importantes sobre o tema.
Para o especialista, o fato do artigo 56 do Projeto de Lei que deu origem ao Código de Trânsito Brasileiro ter sido vetado pelo Presidente da República à época, justifica a permissão do tráfego nos corredores.
”Como ele PROIBIRIA a condução de motocicletas nos corredores formados entre veículos, a falta de proibição equivale à permissão deste tipo de comportamento (o que é reforçado, inclusive, pelas razões de veto, em que se citou a agilidade da motocicleta como um de seus principais “benefícios”)”, explica Araújo.
Julyver acredita também que não é ONDE se conduz a moto o problema, mas COMO se conduz. “Existem diversos fatores que levam ao alto número de ocorrências de trânsito envolvendo motociclistas, principalmente pelo equilíbrio dinâmico, que exige que este veículo permaneça em movimento para se manter equilibrado. O problema é, principalmente, como se interagem os diversos atores do trânsito. Na minha opinião, mudanças repentinas de faixa, falta de sinalização de sua intenção, altas velocidades e falta de distância de segurança são fatores muito mais preponderantes do que a “utilização do corredor”, o que envolve também a condução de automóveis na via pública”, argumenta.
Proibição do tráfego no corredor
Muitos defendem a proibição do tráfego de motocicletas no corredor entre veículos, inclusive há projetos de lei que tratam do assunto. Questionado sobre o fato, o especialista foi claro.
“Meu posicionamento é que a proibição traria mais efeitos negativos do que positivos, pois, ao exigir que a motocicleta seja conduzida atrás de um automóvel, reduz-se a capacidade de visão do motociclista, frente aos obstáculos da via (buracos, dejetos, manchas de óleo etc), impedindo a tomada de decisões frente às condições adversas e repentinas. Penso que o ideal seria reconhecer este uso da motocicleta e, justamente, facilitar o seu deslocamento, aumentando os espaços entre as faixas de rolamento, ao menos entre as que se encontram mais à esquerda da via; além disso, fiscalizar com rigor as infrações que acarretam a queda de motociclistas”, conclui.
Dicas de segurança
O Portal do Trânsito separou algumas dicas para os motociclistas trafegarem com mais segurança nos corredores. A primeira delas é que o motociclista sempre deve ter em mente que circular no corredor envolve riscos e, portanto, toda atenção nunca é demais. Geralmente, os mais temerosos – e cuidadosos – têm menos chances de se envolver em acidentes.
Como foi mencionado anteriormente, não é proibido pela legislação trafegar nos corredores, mas é perigoso. O mais seguro é trafegar quando os veículos estiverem parados. Quando o trânsito estiver fluindo, o motociclista deve respeitar os limites de velocidade da via e ocupar o espaço de um carro. Outra dica é sempre sinalizar com antecedência as manobras que pretende realizar.
Mesmo durante o dia, é obrigatório trafegar com o farol aceso da moto. A desobediência a essa regra é infração gravíssima, com multa de R$ 293,47. O uso do farol facilita que o motociclista veja e seja visto pelos demais condutores e até por pedestres.
Os pontos cegos são as áreas onde a visão do motorista é bloqueada pelas colunas do carro, como nas laterais ou mesmo na parte traseira. Mesmo com o farol da moto aceso, o motociclista pode estar escondido neles. A dica de especialistas é tentar contato visual com o motorista através do espelho retrovisor do carro, se o motociclista consegue ver o os olhos do motorista, a moto está visível.
A velocidade máxima permitida na via nem sempre é uma velocidade segura. O bom senso manda que a velocidade do veículo seja compatível com todos os elementos do trânsito. Mesmo com o trânsito parado, as motos não devem trafegar pelos corredores em alta velocidade, pois elementos surpresas podem aparecer e causar acidentes. A velocidade inadequada reduz o tempo disponível para uma reação eficiente em caso de perigo.
Isso inclui manter distância de outras motocicletas também, pois é cada vez mais comum as colisões que envolvem apenas esse tipo de veículo. Ao entrar no corredor, é necessário manter distância lateral, frontal e traseira das outras motos.
Motoristas de caminhões e ônibus, devido ao tamanho do veículo, têm maior dificuldade em realizar manobras e muitas vezes ficam com a visibilidade comprometida. Ao passar ao lado desses veículos o motociclista deve considerar que pode não estar sendo visto pelo motorista. Jamais ultrapasse pela direita junto à calçada, pois um pedestre pode descer ou você pode ser fechado.
Muitos pedestres atravessam no meio da via e olham apenas que os carros estão parados, esquecendo-se das motocicletas. Isso vale para ambulantes também que tentam vender suas mercadorias por entre veículos. Os motociclistas devem ter atenção especial nesses casos, reduzindo a velocidade e respeitando a sinalização.
Dicas para os condutores de automóveis
Os principais cuidados para evitar acidentes com motocicletas são: redobrar a atenção em conversões e mudanças de faixas, pois os motociclistas costumam transitar nos “pontos cegos”, além de conferir constantemente o que se passa atrás e dos lados do veículo através dos retrovisores. Outro fator importante é que mesmo a frenagem da moto sendo igual à de um carro, em condições de chuva ou de sujeira na pista ela pode escorregar.
Os condutores de automóveis também devem ter cuidado ao abrir as portas do veículo quando estiverem estacionados ou parados em congestionamentos e cruzamentos.
Fonte: https://portaldotransito.com.br/noticias/moto/descubra-agora-moto-pode-ou-nao-andar-no-corredor/