Em um país que tem um número impressionante de acidentes diários, a importância de ensinar Primeiros Socorros é inquestionável. Afinal, o socorro especializado nem sempre está presente ou próximo o suficiente para dispensarmos, como sociedade, este conhecimento. Em diversos países, como no Japão por exemplo, o assunto é levado às salas da escola básica, aos escoteiros, às empresas e associações de todas os tipos.
A disciplina de Primeiros Socorros faz parte da Formação de Condutores, e também dos cursos de Renovação, Reciclagem e de Especialização de condutores. É portanto, um tema muito presente no universo da educação para o trânsito. E é alvo constante de discussões sobre sua necessidade e utilidade.
Em um terreno cheio de opiniões inflamadas e muitas vezes contraditórias sobre o quê e para quem deve ser ensinado, há um consenso: quem domina as noções básicas de primeiros socorros, pode salvar vidas, efetivamente. Este é um conhecimento importantíssimo, inclusive para saber avaliar o que não se deve fazer. E também, claro, se o socorro “oficial” não vai chegar a tempo, para saber o quê e como fazer.
Na formação de condutores, os procedimentos básicos de suporte à vida perderam espaço para a ênfase em se chamar por socorro especializado. Um erro, na opinião de diversos especialista da área. “Desperdiça-se aí uma grande oportunidade de difundir um conhecimento importantíssimo para todos, inclusive para quem tem a visão simplista de que é melhor o leigo não mexer na vítima”, considera Celso Alves Mariano, diretor do Portal do Trânsito.
Uma coisa não deveria concorrer com a outra, mas concorre. Isso é um grande problema, na medida em que muitas vidas sob risco poderiam ser salvas, agravamentos de lesões poderiam ser evitados, ampliando a eficiência do atendimento às vítimas de acidentes de todas as ordens, de acidentes de trânsito aos acidentes de trabalho, de quedas e desmaios até AVC’s e paradas cardiorrespiratórias.
Porque saber primeiros socorros
Um dos principais argumentos reside numa constatação muito simples e direta: nada vale mais do que a vida humana. Mas aprender as técnicas do suporte básico à vida pode parecer, para muitas pessoas, desagradável, por significar entrar em contato com o sofrimento de outra pessoa, ou mesmo por exigir muita calma e até uma certa dose de frieza. Ou ainda por ter “medo de sangue”, náuseas e sensações do tipo. Seja qual for a resistência, o instrutor/professor, pode lançar mão de pequenos exercícios de imaginação que podem ajudar a decidir o quanto vale a pena o esforço de aprender sobre o assunto. Pergunte: se alguém muito próximo a você, um filho, pai, mãe, esposa, etc, passa mal ou se fere gravemente, e o socorro especializado está inacessível ou vai demorar a chegar, você não gostaria, neste momento, de saber o quê fazer?
Os chamados “minutos de ouro”, do acidente ao socorro adequado, podem significar vida ou morte. Leves ou graves e permanentes sequelas. “Muitas vezes o socorro especializado existe, pode ser acionado, mas vai demorar um tempo precioso demais de que, talvez, a vítima não disponha. Pense nisso”, alerta Mariano.
Porque ensinar primeiros socorros
Uma boa pergunta a ser feita a si mesmo é: se você for a vítima de um acidente, você não vai preferir ser atendido(a) por alguém que saiba o que está fazendo? Nem que seja para tomar a decisão de, após chamar, esperar que o socorro especializado chegue. Há um enorme valor no conhecimento que as pessoas têm sobre o assunto. Qualquer pessoa. Todas as pessoas! Afinal, nunca se sabe quando, onde e em que condições você vai precisar de socorro, nem quem estará disponível para lhe atender.
Num mundo ideal, numa “situação ideal”, alguém chama por socorro especializado e tudo dá certo. Os socorristas chegam em poucos minutos, antes que você morra por perda de sangue ou tenha danos neurológicos irreversíveis. Mas na prática, nem sempre o socorro especializado é acionado. Ou porque as pessoas ficam muito nervosas, ou ficam em dúvida, ou não sabem avaliar a gravidade das situação, ou não lembram do telefone do SIATE, do SAMU ou dos Bombeiros, ou não há sinal de telefonia celular, internet ou mesmo carga na bateria do smartphone.
Ainda: muitas vezes dá tudo certo para chamar o socorro, mas o acidente aconteceu numa região muito remota, ou há congestionamentos, ou curiosos dificultam a aproximação e o acesso dos socorristas. E tudo isso pode significar riscos à vida. Situação que pode ser amenizada de forma significativa quando há alguém preparado por perto.
Como ensinar
São inúmeras as situações que podem complicar uma situação em que não se pode perder tempo, não conseguir decidir, ou então fazer a coisa errada. Por tudo isso, é fundamental, não apenas conscientizar e orientar para que seja chamado o socorro especializado, mas ensinar de forma correta o que deve ser feito.
Para a primeira parte, a das primeiras atitudes, os cuidados com o local e avaliação inicial do estado das vítimas, para passar informações precisas e úteis para o socorro especializado, todo instrutor de CFC teve (ou deveria ter tido) orientações mínimas e corretas. Para a segunda parte, é altamente recomendável o aprofundamento dos estudos e a realização de um curso específico de socorrista.
Existem inúmeros cursos em todo país de Suporte Básico à Vida. Informe-se e valorize seu currículo e o CFC onde trabalha. Mais do que uma questão profissional, é uma questão humanitária.
O quê ensinar
O medo de pessoas mal preparadas causarem um agravamento na situação das vítimas, explica em boa parte o afastamento do ensino de técnicas de primeiros socorros nas cursos de Primeira Habilitação. Veja a seguir, um trecho do livro Condutor Nota 10, da Tecnodata Educacional (*):
Quem deve prestar socorro às vítimas?
A maioria das pessoas tem dúvidas sobre como e quando prestar os primeiros socorros. Afinal, ajudar sem os devidos cuidados pode prejudicar a vítima. Não ajudar significa omissão.
O Conselho Federal de Medicina recomenda que o socorro seja prestado pela pessoa mais capacitada no momento e mais próxima do local do evento de emergência.
Socorrista
Médico ou outro profissional de saúde presente no local
Pessoas leigas com noções de primeiros socorros
Pessoas leigas sem noções de primeiros socorros
A situação de emergência justifica as limitações
A situação de emergência justifica o atendimento ou a ajuda, mesmo que essa seja dada de forma limitada, devido ao baixo nível de conhecimento de quem está ajudando ou em razão da eventual precariedade das condições no momento e local da emergência.
Obviamente, quanto mais conhecimento e experiência a pessoa tiver, melhor será a qualidade do atendimento de emergência que ela poderá prestar com segurança, afinal, quem sabe o que fazer não perde tempo e poupa segundos preciosos que salvam vidas.
Lembre-se: Deixar de prestar ou providenciar socorro às vítimas é CRIME, é infração gravíssima, com multa multiplicada por 5 (R$ 1.467,35), recolhimento da CNH e suspensão do direito de dirigir.